A Comissão da Verdade Vladimir Herzog, da Câmara Municipal de São Paulo, presidida pelo vereador e médico Gilberto Natalini (PV-SP) ouviu neste dia 25 de março, pela manhã o depoimento de duas mulheres ex-presas políticas e vítimas de torturas durante o regime militar Lenira Machado e Rita Sipahi que denunciam o delegado Dirceu Gravina por torturá-las nas dependências do Doi-Codi.
Gravina era conhecido à época pelo apelido de “Jesus Cristo” por usar cabelos compridos e roupas à moda hippie, era delegado de polícia e atuou no Doi-Codi de São Paulo entre 1971 e 1972 e é acusado por assassinato e tortura de presos políticos.
Gravina, que vive em Presidente Prudente no interior do Estado, e trabalha como delegado de polícia, viajou a noite toda para depor na Comissão Vladimir Herzog, mas não passou da porta da Câmara. Chegou a conversar com os membros da comissão – o presidente Natalini, o relator vereador Mário Covas Neto (PSDB) e Toninho Vespoli (PSOL). Durante a conversa os parlamentares argumentaram sobre a importância da participação de Gravina, mas ele se dispôs somente a falar em depoimento fechado.
Ele se negou falar aos parlamentares e com a imprensa presente no local.
Natalini explicou que Gravina teria entendido que ele foi convocado e não convidado e que a audiência seria somente com os vereadores. “Nossas audiências nunca são assim. Todo mundo sabe que as audiências aqui são abertas”.
Agora a Comissão Vladimir Herzog vai solicitar, por meio de ofício, à Comissão Nacional da Verdade para que Gravina seja convocado a depor, a exemplo do que foi feito com Carlos Alberto Ustra, ex-chefe do DOI-Codi, e com Aparecido Calandra.
DEPOIMENTOS
“No DOI-Codi “Jesus Cristo”, como ele era chamado, gritava, me xingava e eu insistia que não era da organização da qual ele me acusava pertencer. Foi aí que pessoalmente JC começou a me dar choques”, afirmou Rita Sipahi em depoimento à Comissão da Verdade sobre o seu primeiro encontro com o delegado Dirceu Gravina, em maio de 1971.
Rita pertenceu ao Partido Revolucionários dos Trabalhadores (PRT) e lutava contra a ditadura militar.
“No tempo que passei lá fui torturada várias vezes. Em outras ocasiões, eles queriam saber o endereço de uma companheira de luta e aí levei muitos choques, principalmente na vagina. Tomei uma injeção que não sabia o que era e também fui colocada no pau de arara. E acabei falando o endereço dela”, contou Rita.
Também militante do PRT política à época, Lenira Machado, hoje com 71 anos, esteve na reuniu da Comissão da Verdade para relatar que foi submetida à tortura Gravina. Segundo ela, choques elétricos na chamada “cadeira do dragão” foram um dos métodos usados na tortura.
“Fiquei com uma diferença de cinco centímetros de um pé para o outro. Consegui recuperar quase tudo e hoje já ando de salto alto. Até 1985 eu também tinha muita dor constante pelo corpo, mas com tratamentos elas praticamente sumiram. Dependendo de como eu ande ainda sinto”.