Há 44 anos, ainda estudante da Escola Paulista de Medicina, fomos presos lutando pela tão sonhada democracia e liberdade. Na cadeia encontrei um metalúrgico, e ele disse que nós, que éramos médicos de “classe média”, certamente sairíamos da cadeia e viveríamos nossa vida, sem nem se lembrar dos pobres e me desafiou a montar um voluntariado médico no bairro do Cangaíba. Voltamos para faculdade, juntei um grupo de médicos e lá fomos nós para a zona leste montar o nosso voluntariado. Na época éramos 14 médicos, hoje somos bem menos, mas continuamos atendendo o povo, todos os sábados, no fundo da Igreja Bom Jesus do Cangaíba.
Voluntário é a pessoa, que devido a seu interesse pessoal e ao seu espírito cívico, dedica parte do seu tempo, sem remuneração alguma, a diversas formas de atividades, organizadas ou não. O voluntariado é algo bem importante, mas quando se fala ativamente em saúde, se torna mais ainda. No país, existem 391.398 médicos atuantes – de acordo com o Datasus, Ministério da Saúde e o Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde do Brasil – CNES – mas, dentre estes, são poucos os que atendem de forma voluntária pelas cidades para quem não têm condições financeiras e não podem se deslocar para grandes distâncias.
Naquele fundo da igreja já fizemos mais de 130 mil atendimentos durante todos esses anos. Dessa iniciativa, surgiu a Associação Popular de Saúde (APS), hoje presidida pelo Dr. Nacime Mansur. A associação tem como foco, a saúde e o bem estar de toda a população. A APS organiza desde atendimentos médicos até cursos de informática e inglês. No voluntariado médico continuamos Nacime, Francé e eu e hoje contamos com apoio de outros profissionais voluntários e também dos voluntários leigos.
Ser médico, ajudar as pessoas e receber pelo trabalho, é bom, mas ser um médico voluntário é muito mais gratificante. A medicina é mais do que sabedoria e salário, é também respeito ao próximo. A sociedade precisa mais disso e juntos podemos fazer a diferença!
Gilberto Natalini- Médico e Vereador PV/SP
