VENTANIAS DO BRASIL

Há algumas décadas, todos diziam que o Brasil era uma terra abençoada porque não tinha terremoto, furacão e outros desastres naturais. Esse tempo passou.

No início desse século ocorreu o primeiro furacão no Brasil. Foi violento e aconteceu em Santa Catarina. Seu nome: Catarina.

Dali para cá temos observado a repetição de ventos muito fortes, na forma de ciclones, tufões e furacões.

Eles são mais frequentes e violentos no sul do país, mas já houve diversas ocorrências na Região Sudeste, com grande prejuízo humano e material.

Ao lado desses fenômenos temos vivido também, e cada vez mais, as chuvas muito violentas, com enchentes devastadoras e mortais por todo o país. Períodos alternados de estiagens, muito prolongadas, que causam a morte de rios, lagos e alagados, prejudicando o fornecimento de água causando impacto no consumo humano, na agricultura e nas hidroelétricas.

Devido a esses fenômenos temos visto também um aumento assustador das queimadas que destroem grandes áreas, matando animais e a vegetação.

Há algumas décadas temos vivido tudo isso, que são fenômenos climáticos cada vez mais frequentes e extremos.

O Brasil e o mundo, estão sofrendo o que se chama de emergência climática, fruto do aquecimento global.

Vi uma pesquisa há algum tempo, onde 96% das pessoas se diziam preocupadas com a destruição ambiental em curso, mas só 27% se diziam dispostas a tomar uma atitude concreta para prevenir isso. Fiquei assustado e indignado com tamanha negligência.

No Brasil, a devastação ambiental caminha a galope.

As nossas leis (que são boas) são desrespeitadas ou mudadas, e o incentivo à predação ambiental parte do Governo Brasileiro, do próprio Presidente da República.

Todos se sentem no direito de derrubar nossas florestas, de queimar nossos biomas, de envenenar o solo e as águas com agrotóxicos proibidos no mundo, com mercúrio nos garimpos criminosos, e nossos rios e mares, com esgoto humano e lixo doméstico. Também, de poluir nosso ar com combustível fóssil, de exaurir nossos recursos naturais, movidos por uma pobreza extrema (da maioria da população) ou pela ganância destruidora de parte considerável de nossos empresários.

A pauta ambiental no Brasil tem sido “a primeira que apanha e a última que fala”. Até quando caminharemos nesses caminhos de loucura???

O Brasil já é considerado um pária ambiental por boa parte dos países.

Logo nós, que temos todas as condições de ser vanguarda mundial em desenvolvimento sustentável, avançando na economia verde, combatendo a pobreza extrema e preservando o Meio Ambiente.

Isso é absolutamente possível e necessário. Basta que os setores sociais se unam e se pronunciem, e exijam do governante de plantão que respeite e implante a agenda da sustentabilidade.

Eu, da minha parte, vivo e trabalho para isso. Convido você a abraçar essa causa. Para nossa própria sobrevivência!

Gilberto Natalini- Médico e Ambientalista

 

A VIOLÊNCIA COMO PRÁTICA POLÍTICA

Muito tem-se falado da polarização política e que está existindo no Brasil. Esse não é um fenômeno exclusivo daqui, pois acontece em várias partes do mundo.

Aparentemente é uma dualidade entre a “direita” e a “esquerda”, entre o capitalismo e o comunismo. Mas, já faz algum tempo, todos sabemos, que o comunismo soçobrou, com a queda da União Soviética e a transformação da China num grande Capitalismo de Estado.

Cuba, Venezuela, Nicarágua, Coréia do Norte são fantasmas de uma ideologia que foi superada na História.

São escombros do socialismo, que se transformaram em ditaduras opressoras, assim como outras ditaduras de “direita” como a Rússia, Arábia Saudita, o Iran, as Filipinas e alguns países da África, entre outros.

Na verdade, ditadura é ditadura. Seja de “direita”,  seja de “esquerda”. Aqui as aspas são propositais, porque esse conceito ideológico se dissolveu na realidade do mundo atual.

O que era essa disputa no passado, está num vácuo ideológico, e o capitalismo se transformou num monstro devorador de povos, com seu capital financeiro predatório e acumulador.

O mundo vive uma desigualdade social escandalosa e intolerável.

E o Brasil??? Qual é o seu papel nesse cenário?

Sempre fomos um país injusto e desigual, desde o descobrimento. Mas hoje somos campeões mundiais de desigualdade social, onde 8 pessoas/famílias/empresas detém a riqueza de 100 milhões de brasileiros.

Isso é vergonhoso, levando-se em conta que o sistema financeiro leva 50,2% do orçamento anual do Brasil só com o pagamento dos serviços e juros da dívida pública, jogando a população pobre na miséria, na fome, no desemprego, na violência, na criminalidade, na desesperança.

Nessa desigualdade social vergonhosa está a causa de nossas mazelas. Mas, a dualidade se transformou numa pseudo luta ideológica e política que está levando o Brasil a uma divisão, que numa evolução de degeneração política e social, coloca em risco a convivência entre as pessoas e a nossa própria Democracia.

Repito: essa dualidade nefasta que se construiu no Brasil entre uma chamada “esquerda”, que tem uma prática fisiológica, populista e corrupta, e a dita “direita” ou extrema direita, com práticas fascistas, preconceituosas, discriminatórias, autoritárias, e que leva o Brasil às raias da barbárie.

Essa falsa dualidade, que polarizou o país num caminho de insanidade, é incentivada pelos rentistas pois qualquer um dos polos dessa dualidade não ameaça seus rendimentos e  seu modelo de espoliação do país.

Parte do nosso povo entrou nessa polarização insana e desnecessária e conduzidos por seus respectivos “chefes”, caminham numa escalada de ofensas, de xingamentos, de opressões, de violências, transformando a convivência entre as pessoas, as famílias, os grupos sociais, numa verdadeira guerra de ideias que extrapolam, cada vez mais para a violência física.

Nós que éramos um país socialmente injusto, somos hoje, também, um país socialmente doente.

Repito: essa dualidade pseudo ideológica e falsamente política é nociva ao Brasil.

Na verdade, a grande tarefa do Brasil é aprofundar e aprimorar a Democracia. Também executar um programa econômico sólido e corajoso que nos torne menos submissos ao mercado financeiro e construa um desenvolvimento econômico que proteja, respeite e recupere o meio ambiente, os recursos naturais e a biodiversidade brasileira. Que combata e extermine a miséria no Brasil, elimine a fome do povo e diminua o abismo da nossa desigualdade social. E que repudie toda forma de corrupção, de tráfico de influência, de fisiologismo e outras doenças graves do nosso sistema político. Isso não é uma tarefa fácil.

E o povo brasileiro, dividido por falsas dualidades, radicalizado ao extremo, cego por pseudo ideologias mentirosas e nefastas não dará conta da imensa tarefa de trazer o Brasil para o trilho da liberdade, do respeito, da justiça social, da qualidade de vida, da moralidade pública.

Caia na real Brasil, antes que seja muito tarde.

Gilberto Natalini -Médico e Ambientalista

O DRAMA DAS RUAS

Caminhar pelas ruas de São Paulo é um hábito que tenho há décadas e que continuo tendo. Mas, tem ficado cada vez mais sofrido cumprir esse costume.

Por dois motivos principais:

Primeiro, a questão crescente da insegurança das ruas, pelo aumento do número de crimes praticados nelas.

O segundo, que quero avaliar aqui, é o aumento do número de pessoas que estão em situação de rua.

O que temos visto, nas vias de São Paulo é o retrato fiel de uma crise social e humanitária, que provoca as pessoas que se preocupam com seus semelhantes.

Em 2010, a cidade de São Paulo tinha 11 mil moradores de rua, hoje possui mais de 70 mil pessoas nessa condição. Os motivos dessa tragédia social são muitos.

A crise econômica é o principal deles. Mas, a degradação familiar, o uso de álcool e drogas, a falta de perspectiva de vida, o desalento, a presença de doenças mentais, a falta de políticas públicas eficazes, a segregação social, o preconceito, a profunda desigualdade social, são também, causas e efeitos do aumento da população de rua.

Alguns dizem que este é um fenômeno mundial. Isso é verdade. Mas, basta uma caminhada a pé pelo centro ou por alguns bairros da cidade para constatar que estamos vivendo uma catástrofe humanitária, que nos remete a um grande acampamento da guerra social nas ruas de São Paulo.

Não se pode dizer que o poder público não está fazendo nada. Várias iniciativas governamentais, vem sendo tentadas no decorrer dos anos. Mas todas têm se mostrado insuficientes diante da demanda e da complexidade do problema.

O abuso de álcool e de drogas está presente em 70% dos casos. Assim como casos de doenças mentais.

O exemplo mais falado disso é a Cracolândia. Esse é um enorme problema social, sanitário e policial no coração de São Paulo. Todas as iniciativas tomadas foram insuficientes e a ferida continua aberta e sangrando.

Sempre me fiz essa pergunta: por que os órgãos policiais não conseguem asfixiar o tráfico de drogas para a Cracolândia, que se situa em alguns quarteirões do Centro?

Sabemos do enorme esforço feito pela sociedade civil para ajudar as pessoas em situação de rua. Igrejas, empresas, entidades civis, munícipes, se mobilizam todos os dias para alimentar, agasalhar, tratar, amparar essas pessoas.

O poder público, como eu já disse antes, também desenvolve os seus programas, mas infelizmente todo esse esforço tem sido insuficiente.

Cada dígito que cai na economia são mais milhares de pessoas que vão viver em ruas de São Paulo.

É um desafio enorme vencer esse flagelo humanitário.

Por enquanto estamos perdendo.

Gilberto Natalini- Médico e Ambientalista