Especialistas defenderam nesta quinta-feira (19/2) a necessidade de uma mobilização popular para que o SUS (Sistema Único de Saúde) tenha mais investimentos e ofereça um atendimento de qualidade aos cidadãos. O debate sobre o financiamento dessa política pública foi o tema do XXXIII Ciclo de Debate Município Saudável realizado na Câmara Municipal de São Paulo, uma iniciativa do vereador Gilberto Natalini (PV).
De acordo com uma pesquisa do Datafolha realizada no ano passado, 45% dos mais de dois mil entrevistados afirmaram que a maior preocupação deles é com a saúde, seguidos de violência (18%), corrupção (10%) e educação (8%). Sendo que mais de 50% dos participantes consideram o sistema de saúde ruim ou péssimo.
“A saúde é a maior preocupação do povo brasileiro e isso ainda não se transformou em mobilização. A única solução para resolver e melhorar o sistema é por meio de pressão popular”, declarou o diretor do Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo), Renato Azevedo.
O professor de economia da Saúde da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, Áquilas Mendes, disse que o governo precisa aumentar os gastos com o SUS. “Precisamos manter nossa indignação e lutar para que os políticos invistam mais em saúde”, sinalizou.
Tanto Azevedo quanto Mendes defenderam que o ideal seria que pelo menos 8% do PIB (Produto Interno Bruto) do país fosse aplicado na saúde. “Temos um subfinanciamento do SUS, e se compararmos com outros países, esses investimentos são muito pouco. No Brasil, é aplicado apenas 3,9%, enquanto na Europa são 8%”, disse.
Os especialistas que participaram do debate também criticaram a abertura do país para receber investimentos estrangeiros na saúde. “Estamos vendo a lógica capitalista devorando a conquista de que a saúde é um direito universal. Agora damos a permissão para que o capital estrangeiro possa comprar e montar hospital, comprar clínicas e promover de serviço de saúde”, disse Mendes.
Para o presidente da Associação Paulista de Medicina, Florisval Meinão, essa situação reflete as decisões políticas. “Temos a aprovação de uma legislação que permite a entrada do capital estrangeiro na ação direta, na prestação de serviço, beneficiando planos de saúde”, declarou.
A pesquisadora do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) Joana Cruz sinalizou para a necessidade de os planos de saúde ressarcirem a União pelo não atendimento. “O governo acaba muitas vezes escolhendo financiar operadoras, sendo que temos o SUS, que merece maior financiamento. Quando essas operadoras não oferecem o serviço que o consumidor adquiriu, elas ficam devendo para o SUS, que não é ressarcido”, disse.
O vereador Natalini (PV), falou sobre a necessidade de debater o tema com toda a sociedade. “Os governos não querem colocar dinheiro no SUS. Não há governo que vai destruir o SUS, nós não vamos deixar”, disse o parlamentar. Natalini informou ainda que diversas entidades estão organizando um grande ato para o dia mundial da saúde, no dia 7 de abril. “Queremos chamar a atenção da população para o descaso dos governantes em relação ao SUS”, disse.