Natalini discutiu os corredores de onibus ha 6 anos atras

 

São Paulo, 25 de setembro de 2003

Corredores de ônibus

Nas últimas décadas, São Paulo teve seu crescimento urbano atrelado ao desenvolvimento industrial. Por conta disso, o sistema de transportes foi estruturado com base em veículos particulares que ocupam mais espaço que a frota de coletivos. A conseqüência foi o estrangulamento do sistema viário em toda a cidade.
 

* GILBERTO NATALINI

 

Construir novas vias como alternativas de tráfego pode minimizar temporariamente o caos do sistema, mas, a longo prazo, a solução é melhorar a eficiência do transporte coletivo. Refiro-me ao ônibus, ao metrô ou trem de superfície que, por diminuírem a necessidade do uso dos carros, podem evitar os congestionamentos. Além disso, com menos carros nas ruas, a poluição também será reduzida, evitando o aumento na população de doenças cardiovasculares e respiratórias.

O metrô é o meio de transporte mais adequado para São Paulo, tanto pelo número de passageiros transportados quanto por gerar menos impacto na paisagem urbana, valorizar o entorno de onde é instalado e possuir uma pontualidade economicamente importante para seus passageiros. A dificuldade está no custo de sua implementação. Neste ponto, é admirável o esforço do Governo do estado em custear sozinho a ampliação desse sistema. O trem de superfície também transporta grande número de pessoas, mas sua instalação gera um impacto no espaço urbano que em muitas situações leva à degradação da paisagem e segregação social.

Por sua vez, os ônibus e as vans, apesar da fácil implementação, têm menor capacidade de transporte e possuem pouca eficiência e pontualidade. Os corredores de ônibus são uma alternativa de diminuir esse deficiência com baixo custo, porém, quando mal elaborados, causam um impacto negativo na paisagem urbana. Por isso, o projeto de corredores deve ser estudado e feito junto com os moradores e comerciantes de cada região, que devem se preparar para suas conseqüências positivas e negativas. A aceitação da comunidade é vital para evitar o esvaziamento dos imóveis, como ocorreu na Av. Santo Amaro.

Nas áreas de valor histórico e ambiental deve haver uma preocupação ainda maior, para que a composição arquitetônica e a paisagem local não sejam agredidas. As estações de transferência não podem competir como os demais elementos da região, pois os imóveis, e também os conjuntos arbóreos, são objetos de alto valor histórico e arquitetônico.

O Passa-Rápido previsto para a Zona Sul, que deve interligar as avenidas Ibirapuera, Vereador José Diniz e Adolfo Pinheiro, representa uma ameaça a 346 árvores da região. Apesar de estarem legalmente protegidas por lei, através de decreto que declara imune de cortes os exemplares situados nos bairros Alto da Boa Vista, Brooklin Paulista, e nos jardins Santo Amaro, Petrópolis, Cordeiro e dos Estados, estas árvores podem perder espaço com a instalação do Passa-Rápido nas faixas da esquerda e paradas de ônibus nos canteiros centrais. A Subprefeitura de Santo Amaro propôs o replantio em locais distantes dos originais. A Prefeitura promete plantar duas árvores para cada uma retirada. Porém, repletos de razão, os moradores ressaltam que eucaliptos de 15 metros de altura não são substituíveis por plantas de 40 centímetros.

Formou-se então uma comissão de arquitetos, engenheiros e urbanistas do bairro e, caso não seja garantida a preservação, os moradores vão recorrer à Justiça para evitar as podas. Sem se opor ao corredor, a população expressa grande receio com o atual projeto, inclusive por não contar com relatório de estudos de impacto ambiental.

Na Rebouças, o projeto de implementação do corredor ficaria praticamente no mesmo trajeto da futura linha 6 do metrô. A sobreposição das linhas deve ser evitada, dando preferência à instalação de estações intermodais que interliguem ônibus e metrô. Além disso, as estações de transferência teriam 40 metros de extensão, ofuscando a paisagem dessa área tombada pelo patrimônio histórico. Seriam estações em estrutura metálica pintadas de vermelho, na qual se vislumbraria sem esforços o logotipo da atual gestão municipal.

Ainda que o desenvolvimento não deva ser barrado, numa cidade carente de referências urbanas como São Paulo não se pode agredir a paisagem em benefício de uma solução precipitada para o sistema público — sobretudo quando há a suspeita de que o que está em jogo de fato são interesses políticos e de marketing eleitoral.

* Gilberto Natalini é médico e vereador (PSDB/SP)

About natalini