Nós sabemos que o Brasil é um país desigual. A pobreza, a miséria, a fome, acompanham o Brasil desde a sua descoberta, com o agravante que, no decorrer do tempo, vem aumentando gravemente, a ponto de hoje, 8 brasileiros mais ricos concentram a riqueza de 100 milhões de compatriotas. Haja injustiça social!
Por outro lado, a alardeada cordialidade do povo brasileiro, não é bem verdadeira.
Realmente, o Brasil é um país privilegiado em suas manifestações literárias, esportivas, musicais, em ciência e criatividade técnica. Isso é um fato inegável e uma realidade muito boa. Também é falácia dizer que o nosso povo é preguiçoso, pois os números mostram que o trabalhador brasileiro é um dos mais criativos e produtivos do mundo.
O grande Jorge Amado e outros diziam que essas virtudes são fruto da miscigenação de etnias no Brasil.
Acredito que seja!
Isso faz do Brasil um grandioso país, com todo esse patrimônio humano e natural. Mas se invertermos nossa lente de visão, veremos um quadro do país que não trará alegria e muito menos orgulho.
Trata-se do lado do comportamento violento e bandido do Brasil. Muito se teorizou sobre isso. Livros, palestras, reportagens procuram explicar, e colocar luz nessa faceta do nosso país.
O fato real é que, à margem da cultura da cordialidade do brasileiro, caminha um comportamento que nos remete muitas vezes à condição da barbárie civilizatória.
Podemos começar pelo extermínio compulsório dos povos originários, os indígenas, que na época do descobrimento eram 5 milhões e hoje não passam de 200 mil pessoas. Esse massacre étnico foi realizado muitas vezes com extrema violência e crueldade.
E pior: atualmente continua acontecendo, inclusive com a cumplicidade do governo brasileiro.
Outro exemplo que mancha nossa história com sangue é a escravidão. Vi uma estatística, que na época da libertação dos escravos, o Brasil tinha 700 mil brancos e 3,5 milhões de negros.
O Brasil foi escravocrata por séculos e foi o último país a acabar com a escravidão. E o sofrimento, e a crueldade infringidas aos escravos, condena o Brasil a carregar o peso de uma terra genocida.
Ao lado dos índios, os negros foram vítimas de nosso “desenvolvimento” violento e criminoso praticado pelos “donos” do poder, mas compartilhado por largas fatias do povo.
O Brasil sempre foi tratado como “colônia”. Primeiro por Portugal, o descobridor, depois outros tentaram tirar uma casquinha como a França e a Holanda. Em seguida, a Inglaterra tomou protagonismo, através de Portugal, entrou com tudo na “colônia” Brasil.
De 80 anos pra cá, os EUA tomaram a dianteira, junto com alguns outros países da Europa, colocando e tirando governos aqui e mandando na nossa economia. Atualmente a China está atuando muito dentro do Brasil.
Assim, há 522 anos, embora sejamos a 12ª economia do mundo, como celeiro de alimentos, ainda somos tratados com o estigma de um país submisso e vassalo pelo sistema financeiro global que retira 50% de nosso orçamento anual como pagamento, não da imensa e enigmática dívida pública, mas sim com a amortização dos juros e serviços dessa dívida.
Como se diz: “não dá pra ser feliz!!!”
Caminha junto e dentro dessa condição “colonial”, uma infinidade de iniciativas e organizações criminosas, que se renovam e se agregam no decorrer dos séculos.
Criminosos avulsos, quadrilhas pequenas, grupos de golpistas, malta de corruptos, matadores profissionais, governantes e líderes quadrilheiros, policiais vendidos, e poderosas organizações do crime organizado, do tráfico de drogas, de armas, de órgãos, de pessoas e milícias bandidas paramilitares são o cardápio que alimenta, incentiva e potencializa a violência, a criminalidade, o comportamento de barbárie que se enraizou na vida do povo brasileiro e nas suas instituições.
Os governos são ineptos, por serem incapazes, corrompidos e muitas vezes partícipes dessas criminalidades. As coisas são muito mais feias do que muita gente imagina.
Assim vivemos e convivemos com um Brasil inteligente, criativo, produtivo, progressista, solidário e humanizado e outro Brasil, violento, cruel, desigual e profundamente dominado pela criminalidade.
Esse é um breve diagnóstico sobre o Brasil Bandido.
O tratamento para isso é tarefa hercúlea e em outra ocasião trataremos disso.
Por fim, precisamos reconhecer que pelo “andar da carruagem” toda essa situação vem piorando, nos últimos tempos, fazendo o Brasil caminhar para uma realidade de barbárie, onde o lado ruim vai dominando o lado bom do país.
Gilberto Natalini- Médico e Ambientalista