A DESIGUALDADE E A CRIMINALIDADE: irmãs gêmeas

Temos vivenciado um aumento exponencial da violência e da criminalidade no mundo todo, e em especial em países mais pobres da África, da Ásia e da América Latina. O Brasil tem índices de violência e crime que o colocam no top do ranking, disputando um nefasto 1º lugar. Aqui, a violência banalizou-se e naturalizou-se de forma insuportável, fazendo parte do dia a dia de nossas vidas, como se fosse uma rotina.

A violência na rua, nos locais de trabalho, dentro dos domicílios e instituições tem múltiplas formas. Ela se apresenta como violência policial, racial, de gênero, de classe, religiosa, contra as mulheres, as crianças, os idosos, os negros, os homossexuais e também contra o patrimônio.

Todos os dias vivemos essa amarga realidade. Os índices são alarmantes e batem recordes internacionais.

A pergunta que não cala: por que estamos tão mal assim?

O diagnóstico é complexo, e as explicações são vários fatores e circunstâncias difíceis.

A causa primeira, a mãe de todas as causas, é a desigualdade social.

Como todos sabem, o Brasil é um dos países mais desiguais do mundo, onde 8 pessoas mais ricas detém a riqueza de cerca de 100 milhões de brasileiros.

Essa desigualdade social, repito, mãe de todas as nossas mazelas, tem causas históricas e pernósticas, que não vamos aprofundar aqui, mas cerca de 46% do orçamento anual do Brasil é destinado a pagar juros e serviços de uma dívida pública que só aumenta e canaliza metade da riqueza produzida no país, para o sistema financeiro.

A miséria, a pobreza, a desesperança está na cara do nosso povo. É só andar nas ruas e nas comunidades pra ver as sofridas condições de vida do povo.

Mas, é claro, desigualdade não é a única causa da violência que nos maltrata, embora seja a principal.

A corrupção, endêmica no Brasil, uma mania nacional, disseminada nas instituições públicas e privadas e presente na vida diária da população é também uma causa importante da violência. Convivemos com isso há séculos no Brasil, mas nos últimos tempos, tomou uma proporção gigantesca, ganhou codinomes e apelidos como o mensalão, o petrolão, o emendão, o conchavão e vai por aí afora.

A grande e a pequena corrupção fazem parte do cotidiano do Brasil, desde as enormes licitações, as negociatas do setor privado, até a famosa multa de trânsito.

Somos, em essência um país corrupto.

Uma terceira e não menos importante causa da violência é a impunidade.

Nossas leis são ultrapassadas e fora da realidade.

Nossa justiça é extremamente lenta, e muitas vezes influenciada por fatores esdrúxulos não republicanos.

Juízes prendem e soltam pessoas sem que se entenda sua lógica.

É uma justiça disfuncional, e embora tenhamos cerca de 700 mil pessoas encarceradas, o sentimento geral é que a Justiça não faz justiça no Brasil.

Acrescente-se a esse cardápio macabro a existência e o aumento do crime e da criminalidade.

A maior facção criminosa do Brasil é considerada a 8ª máfia do mundo.

Ela atua desde o tráfico de drogas, de armas, de pessoas, até negócios “lícitos” onde lava seu dinheiro sujo.

Ela se tornou uma grande holding de ações criminosas violentíssimas, chegando à uma empresa de negócios diversificados e estruturados.

Vai tomando as instituições públicas, como governos, parlamentos e judiciários, assim como fatias dos negócios privados.

Debaixo desse guarda-chuva existem milhares de organizações criminosas, de quadrilhas de todos os tipos que atuam em inúmeras atividades criminosas de grande porte até chegando nas gangues de roubo de celulares na rua.

Golpes, assaltos, latrocínios, roubos, ameaças, extorsões, “venda de serviços”, contrabando, comércios ilegais de todo o tipo, financiamento de igrejas, de entidades, do carnaval, são as faces criminosas de um Brasil ajoelhado para a violência e a criminalidade.

É preciso dizer bem alto que essa é a realidade cruel do nosso país, e não se trata de uma guerra política da “direita” e da “esquerda”, que foram e são incompetentes e ineptos para amenizar esse problema.

As propostas de soluções são muitas e diversificadas.

Mas, não vamos aprofundá-las, aqui, hoje.

Fica para uma próxima reflexão!

Gilberto Natalini- Médico e Ambientalista

 

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