Brasileiros precisam dar um basta ao ‘jeitinho’

Uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV), feita para o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, serve de alerta a todos nós. Divulgado após as eleições de 2014, o levantamento revela que, para 81% dos brasileiros, a escolha por “dar um jeitinho” prevalece sobre o dever de cumprir as leis. Foram ouvidas 7.100 pessoas, em oito estados. Para 81% dos entrevistados, é “fácil” desobedecer às leis.

NataliniPlenario

Está mais que na hora de combatermos a permissividade que marca as nossas relações sociais e é resultado, em última análise, da aliança perversa entre corrupção e impunidade.
Interessante notar que, entre as instituições com menos credibilidade, conforme a pesquisa da FGV, aparecem os partidos políticos (6% de credibilidade), Congresso Nacional (17%) e Governo Federal (31%).
O problema, como se vê, está na esfera política. Não é à toa que os moradores do Distrito Federal foram, entre todos os brasileiros, os que mais demonstraram acreditar no “jeitinho” para resolver os seus problemas, de acordo com a FGV. Afinal, quem vive em Brasília está mais perto do poder. Sabe como as coisas funcionam.
É em Brasília que se faz o jogo grande da política. Por lá passa, necessariamente, os contornos do escândalo da Petrobras, que mobiliza o país desde as eleições e é tido por muitos analistas como o maior esquema de corrupção governamental no Brasil, em todos os tempos. Com as revelações que virão, o chamado escândalo do petrolão deixará no chinelo o emblemático escândalo do mensalão.
O mensalão, aliás, embala o senso comum sobre a impunidade no Brasil. Graças ao “jeitinho”, o ex-presidente Lula, por exemplo, ficou fora das investigações. Apesar das evidências em contrário, livrou-se da denúncia e do provável impeachment ao alegar o famoso “eu não sabia de nada”.
A responsabilidade sobre o mensalão recaiu sobre José Dirceu, homem forte do PT, apontado pelo Supremo Tribunal Federal como o chefe do esquema de compra de votos no Congresso Nacional. No país da corrupção e da impunidade, Dirceu, menos de um ano após ter sido preso, já está nas ruas novamente. Livre para fazer política.
Do Congresso Nacional vem outro “exemplo” de que o crime compensa, com mais uma pizza colocada no forno por nossas lideranças políticas: o caso do deputado André Vargas (ex-PT, agora sem partido), acusado de envolvimento com a máfia que desviava recursos da Petrobras.
Vargas foi forçado a sair do PT depois que ficou claro o uso que fez de jatinho alugado pelo doleiro Alberto Youssef, protagonista do esquema de propinas na Petrobras. Vargas e Youssef são acusados de tentar montar um esquema de corrupção no Ministério da Saúde, na gestão de Alexandre Padilha (PT-SP).
Com mais um “jeitinho” brasileiro, a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados lança mão de subterfúgios para não apreciar o pedido de cassação do mandato de Vargas. Com isso, o deputado ganha tempo. Como os 81% da pesquisa da FGV, o petista possivelmente considera que é “fácil” desobedecer às leis e sair impune.
O bom exemplo tem de vir de cima. Enquanto representantes da elite política e econômica não forem duramente responsabilizados e punidos por desviar dinheiro público, a população continuará apostando no “jeitinho” que atravanca o desenvolvimento do Brasil e tanto mal faz a todos nós.

Gilberto Natalini, 62 anos, é médico, vereador (PV-SP) e presidente das Comissões Municipais da Verdade e de Meio Ambiente na Câmara Municipal de São Paulo.

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