O BRASIL DIANTE DO CÂNCER

Alguns dizem que está aumentando a incidência de tumores entre nós. Outros dizem que não, que apenas estão sendo feitos mais diagnósticos. Na minha opinião estão acontecendo a duas coisas.

O consumo exagerado de agrotóxicos, a poluição do ar, as substâncias cancerígenas muitas vezes utilizadas na produção industrial, os hábitos não saudáveis de vida e a maior longevidade dos seres humanos, são fatores determinantes da maior incidência de tumores entre nós. Por outro lado, o avanço tecnológico dos exames diagnósticos, sejam os bioquímicos e os de imagens, detecta cada vez mais precocemente e em maior escala o aparecimento das neoplasias.

O fato real é que estamos vivendo um aumento assustador dos cânceres de diversos órgãos e tecidos. Observamos isso nos números estatísticos e também na prática clínica do dia a dia. Os tumores de mama e de próstata são exemplos disso. Mas, outros tipos também aparecem em número cada vez maior. Como sabemos, 75% do povo brasileiro depende exclusivamente do SUS. Aí começa o drama.

O aumento da incidência dos tumores não acompanhados, do número de serviços e vagas na oncologia, e cortes de verbas pelo Ministério da Saúde, está tornando a vida de quem é diagnosticado com câncer, e dependente do SUS, num drama humano de proporções gigantescas.
Temos feito diagnósticos seguidos em nosso voluntariado médico da Associação Popular de Saúde no Cangaíba, onde atendemos há 47 anos.
A partir do diagnóstico começa a nossa luta e o calvário dos doentes que precisam ser acolhidos num serviço de Oncologia para avaliação, para cirurgia e/ou quimioterapia e radioterapia. Quanto mais precoce é o diagnóstico e o início do tratamento maior são as chances de uma pessoa vencer a doença. Mas, temos observado cada vez mais que a espera por uma vaga está sendo mais longa, com filas de meses para iniciar a terapêutica oncológica.

Os tumores não esperam, e conforme o tempo passa a doença avança inexoravelmente. São Paulo, cidade e estado, têm vários centros de oncologia muito competentes. Mas, pelo aumento da demanda, por usuários daqui, ou chegados de outros estados, sem o aumento da oferta de serviços, há um congestionamento de casos, com uma espera inaceitável para a doença. Além do tratamento precoce, a prevenção do câncer também tem sido abandonada no Brasil, por falta de uma política do Ministério da Saúde.

A falta de campanhas de massa, como o caso do tabaco, o Papanicolau, o câncer de pele, entre tantos outros tem negligenciado uma poderosa ferramenta contra o câncer: o esclarecimento.

Tenho atendido muitos casos tardios de tumores, que poderiam ter sido curados se a pessoa tivesse a oportunidade de um tratamento precoce, que não foi conseguido.

No Brasil, as pessoas precisam ter muita coragem para enfrentar os obstáculos quando diagnosticadas com câncer. Para nós médicos e profissionais de saúde, fica a tristeza e a indignação de ver o SUS tão desfinanciado, tão desprestigiado, tão relegado, em particular pelo Governo Federal. Aos pacientes e à população fica o alerta e o brado: defende o SUS para que ele cuide de sua vida!

Gilberto Natalini- Médico e Ambientalista

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