PERDER A INDIGNAÇÃO, A DIGNIDADE E A ESPERANÇA JAMAIS!

Muitos de minha geração, e eu me incluo, entramos para o ativismo social e político desde muito jovens.

Nessas seis décadas passamos por muitos momentos no Brasil. Períodos de esperança e conquistas e tempos de medo, desalento e retrocessos. Mas, independente da conjuntura do momento, nunca deixamos de lutar.

Tomo a liberdade para falar em nome daqueles que como eu perseguimos as bandeiras das liberdades democráticas, do desenvolvimento econômico sustentado, buscando a maior equidade social, a melhor qualidade de vida para o povo, a defesa do meio ambiente e da moralidade pública.

Vi, durante essa longa caminhada, muitos perderem o rumo, desviarem-se dessas bandeiras em busca do poder pelo poder ou do dinheiro fácil das negociatas e da corrupção. Foram muitos. Mas vi e vejo também, vários parceiros que, ao passar do tempo, mantiveram-se fiéis aos princípios, às ideias, às propostas e às causas que nos embalaram desde nossa juventude. Não vou citá-los aqui porque são muitos.

Há pelo menos três décadas as ideologias se encolheram, se atrofiaram. Prevalecem na sociedade brasileira e mundial, um sentimento e uma prática de um materialismo banal, de um consumismo perdulário, da busca do conforto individual, onde o dinheiro, às vezes fácil e ilícito, é o que vale. Isto prevalece forte até hoje. Deu no que deu!!!

Em plena vigência da pior pandemia da história humana, os 10 homens mais ricos do Planeta duplicaram suas fortunas. Ao lado disso, cerca de mais de 200 milhões de pessoas foram empurradas para a mais absoluta miséria. Chegamos à cifra surreal, onde 26 pessoas mais ricas do mundo detêm a riqueza de metade da humanidade.

A desigualdade social, a miséria e a fome são os grandes marcos de nossa época, ao lado da maior evolução técnico científica que hoje revoluciona os modos de produção e as relações de trabalho. Há uma injusta e cruel desigualdade no enorme avanço do desenvolvimento humano. Por outro lado, se coloca uma questão ameaçadora que invadiu nossas vidas.

A sociedade humana na construção do seu modo de vida, descobriu há 150 anos, explorou, expandiu e generalizou a produção de energia a partir da queima do combustível fóssil: o petróleo. E daí, descobriu-se que essa queima produz a energia, mas produz também vários gases que agem como um cobertor em volta do Planeta, produzindo um efeito estufa, o aquecimento global, que se desdobra em mudanças do clima.

Somado a esse fenômeno, nós humanos temos também, na busca do “desenvolvimento”, atacado de forma predatória e descontrolada os recursos naturais do Planeta e sua biodiversidade, devolvendo os resíduos nocivos do nosso consumo. Essa é a receita do “fim de mundo”!

Então vejam: a enorme desigualdade social somada à agressão cruel ao meio ambiente, são os assustadores problemas das gerações atuais.

No Brasil, todas essas condições nefastas multiplicam-se muito, por uma desgovernança, uma criminalidade e uma impunidade devastadoras.

Como enfrentá-los??? Resposta: enfrentando-os!

Tenho visto muitos amigos e conhecidos que respeito muito dizer: “desisto! Não há solução! O mundo caminha para o colapso”! Quero respeitosamente, discordar. Sabemos do tamanho da encrenca.

Sabemos do tamanho da ignorância, da ganância, da desumanidade, do negacionismo e das criminalidades que movem essa marcha atual da humanidade. Não somos ingênuos.

Nós também conhecemos a capacidade de inteligência humana, da criação científica, do sentimento de solidariedade e de auto preservação da nossa espécie. Temos visto muitos movimentos de resistência a essa “marcha da insensatez”.

Nessa luta das ideias e das formas de viver, só nos resta uma saída: lutar!

Portanto, nossa geração pode-se entristecer, pode-se achar cansada de certa forma até derrubada, vendo o sonho da felicidade humana tênue e distante. Mas não temos o direito de perder a indignação e a esperança. Muito menos perder a dignidade e o espírito de luta.

Gilberto Natalini- Médico e Ambientalista

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