Poucos paulistanos sabem, mas muito da água que bebemos vem de Minas Gerais

Estamos vivendo uma situação crítica no abastecimento público pela escassez de chuvas, já num prenúncio do que vem por aí com o agravamento do aquecimento global. O Sistema Produtor Cantareira, o principal da RMSP, responsável pelo abastecimento de 42% da população (8,4 milhões de pessoas) está batendo recorde de baixo volume, com cerca de 17% da capacidade e próximo ao nível em que a captação usual é viável.

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Isso está na mídia todos os dias. Porém muitos não sabem que 2/3 da água do Cantareira vem dos contrafortes da Mantiqueira mineira a 72 km do centro de S. Paulo. É fundamental se recuperar a mata ciliar das 7 represas que formam o sistema, pois isso salvaguarda a qualidade de água, reduz a erosão e turbidez e assim o gasto com produtos químicos no tratamento. Contudo isso só não basta. A ocupação do solo na bacia de drenagem que alimenta os córregos e rios foi ao longo de décadas a pecuária leiteira extensiva que é bastante impactante. É preciso se evoluir, diversificando-se com outras vocações econômicas ambientalmente melhores e com maior potencial de geração de renda.
Isso passa por aumentar a cobertura florestal nativa, com possibilidade de manejo para extração de madeira, fármacos e outros produtos e no futuro até marcenaria. Também é importante criar mecanismos financeiros para incentivar o plantio de mudas, sobretudo para formar corredores ecológicos entre os capões remanescentes de mata nativa. A notícia abaixo no portal AmbienteBrasil com base no Globo Rural) descreve uma boa iniciativa em extrema – MG com parceria da prefeitura e produtores locais que está propiciando o plantio de 150 árvores / dia e a preservação da mata existente.
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17 / 02 / 2014 – Trabalho de proteção de nascentes ajuda a garantir água em MG
CLIPPING
A grande estiagem do verão no Sudeste nos últimos dias provocou a realização de uma campanha para economizar água na Grande São Paulo. Extrema, em Minas Gerais, aposta na proteção das nascentes para garantir o estoque de água. O município está ganhando fama mundial com o Programa Conservador das Águas, o projeto recebeu o prêmio da ONU de melhores práticas ambientais no planeta.
São Pedro foi mais uma vez acusado de negacear com as chuvas. Na terra, o grande vilão da vez é o conjunto de represas chamado de Sistema Cantareira, acusado de baixar o nível. O cabeça do complô seria o reservatório Jaguari, o coração do sistema que nos últimos dias mostrava as gengivas e parte dos fundos com menos de 10% da capacidade, assombrando com a falta d’água a região metropolitana de São Paulo. Mas, a responsabilidade material seria do Rio Jaguari, que corre na divisa entre São Paulo e o sul de Minas, e é principal alimentador do sistema. Ele é bebido inteirinho pela população paulistana.
O Rio Jaguari é caudaloso na época de chuva e verte por toda cortina de pedra. Nos picos de cheia alcança uma vazão de até 200 mil litros por segundo. A vazão média do rio é de 22 mil litros por segundo. Em um dia nessa semana a vazão foi de 1.350 litros, quando o Jaguari contribuiu com o Sistema Cantareira com apenas 6% do que costuma levar. O Rio Jaguari é abastecido pela água que vem das nascentes. O Sistema Cantareira conta com aproximadamente dez mil nascentes.
O Rio Jaguari engrossa e ganha corpo na divisa paulista de Joanópolis com Extrema, no extremo sul de Minas. O município está ganhando fama mundial com o Programa Conservador das Águas, um projeto de proteção de nascentes que, entre tantos prêmios, levou o troféu da ONU de melhores práticas ambientais no planeta.
A grota pioneira do programa tinha sido desmatada e formada de pasto. Em 2008, foi concluído o trabalho de cercada e replantio. Hoje, o lugar é um vistoso capoeirão revigorado. “Ela está com 60% da vazão original, da vazão média. Ela teve um pouco da sua capacidade, mas está uma nascente viva”, diz o secretário de Meio Ambiente de Extrema, Paulo Pereira.
O programa de Extrema reconhece o proprietário rural como prestador de serviços ambientais já que ele abre mão de ter lucro em áreas protegidas para garantir um bem comum que é a água. A chuva quando cai em terreno limpo corre direto para o rio e logo volta para o mar. Em áreas conservadas, a água se infiltra no solo, forma bolsões freáticos na montanha, por exemplo, encharca o solo e o subsolo. Depois, vai se liberando devagar pelas nascentes, garantindo o abastecimento nos períodos secos. O proprietário inscrito no projeto ganha por ajudar a estocar água.
A propriedade de João Batista de Oliveira tem 122 hectares no Programa Conservador das Águas. Ele foi um dos primeiros produtores a participar do projeto na região e recebe atualmente cerca de R$ 2,3 mil por mês como compensação. “A água para o gado não falta, mas o volume caiu 40%”, diz.
O criador Hélio de Lima é proprietário de 90 hectares na serra da Mantiqueira. Praticamente a metade do local é coberta de mata que compõe um mosaico de pasto e áreas de roça com grotas sadias. “Hoje, temos água. Nove minas todas preservadas. Nenhuma secou”, diz.
As nascentes da fazenda fornecem água capaz de abastecer seis mil pessoas na cidade de São Paulo. O criador poderia ter mais 30 ou 40 cabeças de gado nas áreas reflorestadas. Ele recebe R$ 1,6 mil de compensação. Mas, não tem nada que pague ver as minas perenes.
Nas áreas com reservas de mata as nascentes sofreram menos com a inédita estiagem de verão, o que reforça uma lição que parece ter sido esquecida por parte da população. Como o alimento que vem da fazenda, a água consumida na maioria das cidades brasileiras também é produzida na propriedade rural.
O município de Extrema já conta com 7,5 mil hectares no Programa Conservador das Águas e avança ao ritmo de plantio de 800 mudas por dia na meta de agregar 150 hectares ao ano. Na composição do Sistema Cantareira, o programa participa com apenas 7% das nascentes. Mas, segundo o secretário Paulo Pereira, tem um balanço positivo.
O programa de Extrema foi inspirado no modelo de Nova York, nos Estados Unidos. Há 25 anos, ao invés de gastar bilhões em reservatórios, o estado optou por investir milhões em propriedades que produzem água a 200 quilômetros de distância.
A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) abastece a Grande São Paulo. O coordenador de mananciais Ricardo Araújo disse que a empresa já plantou R$ 1,3 milhão de mudas para melhorar o Sistema Cantareira, mas não tem planos, no momento, de pagar compensação aos proprietários rurais, como acontece em Extrema. Em Brasília, há projeto que cria uma política nacional de pagamento por serviços ambientais parado na Câmara Federal. (Fonte: Globo Rural)

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