São Paulo: cadê a sustentabilidade?

Houve um tempo em que eu acreditei que a cidade de São Paulo, a quinta metrópole do mundo, começava a caminhar para a construção de sua sustentabilidade.

Foi um período rico em projetos e ações para combater o imenso passivo ambiental de seu desenvolvimento urbano gigantesco, agressivo, desplanejado e predatório.

As seis poluições, como as divido didaticamente, cresceram e se instalaram no tecido da cidade.

A poluição das águas, do ar, do solo, sonora, visual e climática são presentes e persistentes na vida dos paulistanos.

A essas se somam a escassez das áreas verdes, a carência de arborização, em especial nas periferias, a imensa impermeabilização do solo urbano, a ocupação descontrolada e muitas vezes ilegal dos bairros, e a imensa desigualdade social que a cidade possui, o que diminui a qualidade de vida das pessoas.

É claro que São Paulo é o principal centro econômico do país, possui uma rica vida cultural, científica, de serviços e de negócios, que a torna muito atrativa.

Mas a insustentabilidade reinante, torna a vida das pessoas muito sofrida.

Portanto, qualquer projeto para a cidade deve levar em conta esse cenário, com propostas coordenadas entre si, e executadas por etapas, num cronograma continuado em gestões sucessivas.

No livro “Por uma São Paulo mais sustentável”, que escrevi junto com Marcelo Morgado, em 531 páginas, nós fazemos esse diagnóstico em detalhes, e indicamos caminhos políticos e administrativos para irmos superando essa insustentabilidade.

Já tivemos em gestões passadas, iniciativas ousadas que fizeram a cidade avançar na direção da modernidade:

– A criação de cerca de 70 parques a partir de 2005;

– A aprovação em 2009 da Lei de Mudanças Climáticas;

– A criação da Operação Defesa das Águas;

– A criação do Programa Córrego Limpo;

– A criação da Ecofrota dos ônibus;

– O plantio de 1.600.000 árvores entre 2005 e 2012;

– A criação das duas grandes usinas elétricas de metano nos aterros de lixo da cidade;

– A participação de São Paulo nas COPs e nas C40;

– O início da implantação das ciclovias a partir de 2005;

– A reforma de 1000 Km de calçadas pelo então programa “Passeio Livre”, acessíveis e permeáveis.

Tudo isso foi interrompido (com exceção das ciclovias) a partir da gestão de 2013.

De lá para cá, os avanços de um urbanismo sustentável ficaram relegados a muito pouco.

O mais preocupante é que não observamos nas pautas atuais e futuras, a retomada dos itens que avançam na sustentabilidade da metrópole.

Isso é trágico.

Faço a minha parte, junto com outros.

Aprovo leis, cobro suas aplicações, exijo dos responsáveis as políticas públicas necessárias, mas os resultados práticos não são suficientes.

Diante dos desafios das cidades do Planeta, no caminho de políticas sustentáveis, São Paulo, que deu largos passos no passado, hoje marca um retrocesso nas pautas da modernidade.

Gilberto Natalini- Médico, Ambientalista e Vereador de SP

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